segunda-feira, 25 de outubro de 2010

"E isso me envaidece"

Estive ontem mais de duas horas a conversar com um adepto do Benfica. Chama se António Lobo Antunes e é, alem de benfiquista, um grande escritor. Um dos maiores do mundo. Sempre que lhe dão um prémio literário, e já lhos deram quase todos, fica mais prestigiado o prémio do que ele. Tem diplomas, medalhas, vários quadros de grandes pintores que quiseram pintar-lhe o retrato. Creio, por isso, que os leitores não serão capazes de lhe censurar a vaidade se disser que, em casa dele, na parede do quarto, está, emoldura da, a sua ficha de inscrição como sócio do Sport Lisboa e Benfica. Cada um tem as suas honrarias, e a vontade de exibir as maiores é apenas humana. «É extraordinário», disse ele a olhar para a moldura, «como um clube fundado por órfãos da Casa Pia - ao contrário do Sporting, fundado por um Visconde, e do Porto, fundado por banqueiros - consegue...» E, entretanto, faltaram-lhe as palavras.
«É extraordinário», limitou-se a repetir. Confesso que fiquei desapontado. Afinal, um grande escritor não fazia milagres: quando alguma coisa era do domínio do indizível, não havia vocabulário, nem talento, nem nada que lhe valesse. Mas, nesse mesmo segundo, Lobo Antunes desmentiu-me. Encontrou as palavras que lhe faltavam, e começou a recitá-las: «Domiciano Barrocal Gomes Cavém. José Pinto de Carvalho Santos Águas. Mário Esteves Coluna. Alberto da Costa Pereira. José Augusto Pinto de Almeida. Ângelo Gaspar Martins. António José Simões da Costa.» Assim mesmo, com os nomes completos e sem hesitações. Mais adiante, nessa mesma tarde, António Lobo Antunes haveria de declamar um poema de Dylan Thomas. Mas não voltou a ser tão poético como naquele momento, à frente de uma ficha amarelecida por mais de 60 anos.
Antes de nos despedirmos, ainda registámos uma coincidência. No dia 23 de Maio de 1990, eu tinha 16 anos e estava a chorar em minha casa; António Lobo Antunes tinha 47 e estava a chorar na dele. Claro, Lobo Antunes é um génio, e eu sou apenas, e só quando consigo, eu. Mas, ao menos naqueles minutos que sucederam à final da Taça dos Campeões (duas ou três horas, no meu caso), a minha sensibilidade foi igual à dele. Não é a primeira vez que o Benfica faz de mim uma pessoa melhor, mas nunca deixa de ser surpreendente.
Feito este curto mas importante parêntesis, para a semana voltarei a dedicar-me às grotescas incongruências de Rui Moreira e Miguel Sousa Tavares, que é para isso que cá estou."

Ricardo Araújo Pereira - A Bola

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Carta aberta a Rui Moreira

Sr. Rui Moreira:
Tenho por hábito ler as suas crónicas no Jornal "A Bola". Tal como é hábito em todas as suas crónicas (não sei se em alguma tal facto não aconteceu), guarda uma boa parte delas para falar do SL Benfica. Daí não vem mal nenhum ao mundo, pagam-lhe para escrever as crónicas e tem o direirto de o fazer sobre o que bem entender.
Na última semana, deu grande destaque a incidentes protagonizados por adeptos do SL Benfica. Embora alguns deles, infelizmente, como lançamentos de pedras de viadutos de auto-estradas, não tenha sido possível apurar quem foram os autores, o sr. atribui tais factos a adeptos do SL Benfica. É uma suposição, que não tenho como objectivo contrariar aqui neste texto.
O que lhe queria dizer, e não perdendo tempo a escrever todos os actos de vilência extrema em que os adeptos do FC Porto se viram  envolvidos ao longo dos anos, pois não pretendo tornar este texto muito extenso, é que a difrença, nós no Benfica condenamos qualquer acto de violência praticada, não distinguido as cores de quem o pratica. Já por aí, na casa que o Sr. defende não só não se condena, como de alguma forma se protege. Essa é a grande difrença. No ano passado quando fomos ao dragão e o nosso autocarro teve que ser escoltado por spotters com Shotguns na mão , em que se viu um verdadeiro clima de "guerrilha", não vi um único dirigente ou adepto do seu clube a condenar isso.
E é por isso, que felizmente somos muito difrentes. Porque ao longo destes anos todos, sempre soubemos pensar pela nossa cabeça, e nunca cedemos a um clima de "guerrilha" regional como a do seu clube.
Porque ás vezes não basta só ganhar, para se ser grande !!!